Pai Tempo

Para a claridade da felicidade

fecho janelas, frestas e portas.

Apenas a dor, causadora de iniquidade,

desabrocha a flor mórbida da idade

e uma vida inteira põe tesa e torta.

Tempo, fio invisível e afiado,

Envolve, abraça o meu pescoço

e no ócio, me faz pensante e decapitado.

Tempo, traz consigo um pesado fardo.

Tempo, de joelhos caio e torço

para que de mim, deixe ao menos um osso.

Manifesto a minha dor sem ímpeto,

meu peito não abasta o coração jovem,

vai, volta, gira e contravém

Me apercebo da lança de Jápeto

Rogo por Zeus, Deus ou Saturno

Na terra, pai tempo, jazo mudo.

E nas linhas onde o poeta,

com todo o ar do peito impreca

à ausência de raízes, ou de amor,

admite-se que há certo charme na dor.

Itinga
Enviado por Itinga em 02/02/2016
Código do texto: T5530712
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