Pai Tempo
Para a claridade da felicidade
fecho janelas, frestas e portas.
Apenas a dor, causadora de iniquidade,
desabrocha a flor mórbida da idade
e uma vida inteira põe tesa e torta.
Tempo, fio invisível e afiado,
Envolve, abraça o meu pescoço
e no ócio, me faz pensante e decapitado.
Tempo, traz consigo um pesado fardo.
Tempo, de joelhos caio e torço
para que de mim, deixe ao menos um osso.
Manifesto a minha dor sem ímpeto,
meu peito não abasta o coração jovem,
vai, volta, gira e contravém
Me apercebo da lança de Jápeto
Rogo por Zeus, Deus ou Saturno
Na terra, pai tempo, jazo mudo.
E nas linhas onde o poeta,
com todo o ar do peito impreca
à ausência de raízes, ou de amor,
admite-se que há certo charme na dor.