Lamento do São Francisco

Houve um tempo que corria mais célere

nos meus braços levava sementes, esperança de vida.

Meus peixes eram tantos e fartos...

Ia cantarolando e distribuindo alegria.

Houve um tempo que o meu caminho era conhecido

contornava montanhas, para mais cedo chegar

ao meu destino...

Houve um tempo que dominava o meu mundo,

o meu exercito, dava conta

daqueles que a mim desafiavam...

Houve um tempo que docemente

eu sorria e oferecia todas as minhas infindáveis dádivas

aos homens e animais.

Servia também de moradia

para bravios seres,

tinha serpentes e duendes a minha revelia.

Houve um tempo que não me fazia esperar,

ia...

Houve um tempo que o mar me recebia

as vezes com relutância, me recebia...

E eu, só de teimosia, o penetrava mar a dentro com força, o rasgava e entregava

as minhas dádivas até onde mais podia…

Hoje me sinto cansado,

Magro,

pobre!

Quase sem sementes… Já tenho pouco presentes!

Me obrigaram a seguir por lugares perigosos

difíceis de ir.

Onde a força empregada me cansa se espreme…

Hoje percorro caminhos estranhos, áridos, sem vida!

Já não corro…

Meu exercito foi domado,

minhas iaras e mães d'água, relegadas a mitos já não cantam...

Minhas serpentes, apagadas!

Iati já não canta e nem chora… Iludida com o progresso foi embora,

não sei se volta!

O mar impaciente e cansado de esperar

vem ao meu encontro.

Me abraça, me penetra, me rompe!

Deixa em mim criaturas estranhas…

Acredito que estou morrendo!

Umburana de cheiro

Umburana de Cheiro
Enviado por Umburana de Cheiro em 01/02/2016
Código do texto: T5530304
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