A menina da esquina
Na esquina a menina passou
Com as mãos erguidas se levantou
Pedindo dinheiro, em troca de amor
Gorjeta?
Trocada no sonho de fazer o homem feliz
Pobre e pequena jovem atriz,
Apenas uma gorjeta
Para matar a fome de uma ninfeta
Que de pés no chão, ergue as mãos
E pede gorjeta em troca de amor,
Não posso condenar a quem se empresta
Não se dá,
A quem é manifestamente carente
Que nem sabe o que é amar,
Mas, deixa, para o mundo ela é indiferente
Menina suja, indecente
Que fez o hipócrita gozar,
São tantos prazeres sei lá,
E só uma gorjeta, para se festejar
As palavras tão prontas que assustam:
Gorjeta, para amor profundo,
Nem fala de sexo, ou prazer
Apenas publica de voz alta:
Dê-me uma gorjeta para eu amar você!
Pobre menina
Que na esquina, levanta seus pés e ao mundo ensina
Que toda a inspiração por mais medíocre que ao mundo pareça
Pode matar a fome, a sede, mas entre tantas indiferenças
Mata a sua natureza,
O seu tempo de ser menina
De ter proeza, na mais linda e suja beleza,
Então, ela pronuncia em alto tom,
Hoje, quero uma gorjeta
E lhe mostro o meu dom...
Pobre menina com as mãos erguidas
Morre aos poucos
No colapso das feridas
De quem aceita a gorjeta
Para completar um dia só da comida,
E o tempo passa, e lá vai a menina
Parece que amaldiçoada
Pela suja gorjeta grã-fina...