A MORTE DA ALMA

Cuidei de um paciente idoso

dentro do quarto de um hospital famoso.

As vezes o idoso chorava alto.

Chamava falando baixo o nome de seu filho.

Eu o vi muitas vezes durante a noite

rolando de um lado para o outro cama.

Aquele idoso vivia com o pensamento em remorso.

Ele havia brigado com o seu filho.

Um dia, depois que troquei as roupas do idoso,

o homem que nunca abria seus olhos castanhos

fixou sua atenção em minha pessoa.

Pediu que dele eu me aproximasse mais.

Ele segurou meu braço apertado e foi dizendo:

_Percebi que você cuida bem de mim...

_ Eu gostaria que você fosse o meu filho

cuidando muito bem de mim...

_ Parece que o meu tempo na terra findou.

Foi dizendo o idoso e em sua conversa continuou;

_ Eu briguei com o meu filho e agora me arrependo.

_ Ele não vem me ver agora que estou morrendo.

O idoso disse as suas últimas palavras.

Deitou sua cabeça sobre o travesseiro.

Ouvi ele dar um gemido profundo e depois ele morreu.

Foi no quarto do hospital que vi por fim a 'MORTE DA ALMA'.

( J C L I S )

ESTE É UM FATO OCORRIDO COMIGO EM 30/09/1982,

AO CUIDAR DO PACIENTE FILINTO BARBOSA FRANCO

QUE FALECEU DE UMA DOENÇA NO PULMÃO.