Fato

Tentei negar a cada passo as minhas dores

Pensei tê-las enterrado nas aragens do tempo

Naquele sol causticante que queimava a terra

Ardia minha pele, fazia meu corpo derreter...

Tomei um último trago da velha aguardente

Desceu queimando,não menos que o fogo que me devorava

O fato em si não me perturbava

O que me enlouquecia eram as suas mais loucas versões

Os seus enfoques distorcidos...seu desenrolar doloroso

E eu chorei perdida na madrugada fria

No nada me vi e sozinha tive que tirar o punhal que me feria

Enlouquecida bradei aos quatro cantos

Lamentei minha dor

Desfiei meu rosário de tormento para não sucumbir

O fato era real, desleal era seu desenrolar

Sentia as fiandeiras do destino embaralhá-lo

Vi Éris sorrindo ao jogar o pomo de ouro

Era o meu pomo, meu pomo da discórdia

Naquela agonia atroz eu afundei de vez

Mergulhei nas águas escuras do pântano

O lodo me cobriu...fiquei aturdida...enlouqueci

Tudo desabou a minha volta

Queria ir embora

Mas ir para onde?

Para qualquer lugar que corresse as Fúrias me alcançavam

Não podia fugir de mim...de todos eu poderia fugir

Mas onde quer que fosse eu levaria meu pensamento

E meu castigo estaria presente...

O fato que de fato não me deixava

Era como um triste fado a lamentar

Minhas dores, meus amores, meus pavores

Render de dentes sem fim

Grilhões a arrastar no eterno ir e vir

Pensamentos alucinados que me consumiam

E eu chorei...chorei...chorei Niágaras de dores

E do meu fato fiz meu fado e cantei toda minha dor

Carla Neumann
Enviado por Carla Neumann em 24/12/2015
Reeditado em 09/01/2016
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