Fato
Tentei negar a cada passo as minhas dores
Pensei tê-las enterrado nas aragens do tempo
Naquele sol causticante que queimava a terra
Ardia minha pele, fazia meu corpo derreter...
Tomei um último trago da velha aguardente
Desceu queimando,não menos que o fogo que me devorava
O fato em si não me perturbava
O que me enlouquecia eram as suas mais loucas versões
Os seus enfoques distorcidos...seu desenrolar doloroso
E eu chorei perdida na madrugada fria
No nada me vi e sozinha tive que tirar o punhal que me feria
Enlouquecida bradei aos quatro cantos
Lamentei minha dor
Desfiei meu rosário de tormento para não sucumbir
O fato era real, desleal era seu desenrolar
Sentia as fiandeiras do destino embaralhá-lo
Vi Éris sorrindo ao jogar o pomo de ouro
Era o meu pomo, meu pomo da discórdia
Naquela agonia atroz eu afundei de vez
Mergulhei nas águas escuras do pântano
O lodo me cobriu...fiquei aturdida...enlouqueci
Tudo desabou a minha volta
Queria ir embora
Mas ir para onde?
Para qualquer lugar que corresse as Fúrias me alcançavam
Não podia fugir de mim...de todos eu poderia fugir
Mas onde quer que fosse eu levaria meu pensamento
E meu castigo estaria presente...
O fato que de fato não me deixava
Era como um triste fado a lamentar
Minhas dores, meus amores, meus pavores
Render de dentes sem fim
Grilhões a arrastar no eterno ir e vir
Pensamentos alucinados que me consumiam
E eu chorei...chorei...chorei Niágaras de dores
E do meu fato fiz meu fado e cantei toda minha dor