AGONIA

Ali, na esquina da sala,
Alma indefesa,
Sempre só,
A mesma tristeza,
A mesma cadeira,
O mesmo olhar,
Quase não fala,
Apenas, divaga,
Traga,
A taça do amargor,
Tenta em vão,
Desatar os nós,
Do pensamento,
Cada momento,
Parece eternidade.
Ali, bem perto,
Dos filhos, dos netos,
Mas se comprimindo,
Se sentindo,
No deserto,
Um objeto esquecido,
Na poeira,
Da vida,
Vida envolvida,
Pelo cansaço,
Pelo tempo baço,
Pelos laços da sina.
Ali, submissa à rotina,
Ao que não acontece,
Ao seu redor,
À dor que não cabe,
Na avançada idade,
E a dor é maior,
Quando ela engasga,
E lá fora, alguém indaga,
Quem está aí?
E o neto responde sorrindo,
Não é ninguém, é minha avó,
Uma lágrima fina,
Escorre na face.
Ali... ela sabe,
Vai ter que ficar,
Que suportar,
A agonia,
Até que a morte a abrace.