Poderia...

Poderia ter escolhido outros caminhos,

dado outros sorrisos a outrém,

direcionado meu olhar à outras paisagens,

poderia ter sido alguém diferente,

sido mais cuidadoso, sido mais pesaroso,

me preocupado mais comigo mesmo,

egoísmo? Talvez ou apenas olhar para dentro,

ouvir os sons que sempre ignorei,

os alertas aos atos impulsivos,

os clamores para conter os sentimentos torrenciais,

os assovios quando me balançava de frente ao abismo,

tirar a venda dos olhos, sim, poderia ter visto um outro mundo,

poderia ter seguido passos mais confiantes,

mas agora tudo o que eu tenho são lamentos,

memórias de um tempo em que fui feliz,

um fugaz momento de amor e dor,

das lágrimas que provoquei,

dos prazeres que despertei,

dos toques de alma que alcancei,

enebriado em um passado que se foi,

vivendo de realidade e ilusão,

na melodia de tristes músicas,

enquanto o garçon me serve uma última dose,

quando nem mesmo o desespero quer me habitar,

só o vazio e o silêncio me acompanham,

sombras de uma existência sem cor,

apenas olhando no relógio de pulso o passar dos segundos,

esperando que a dona foice não se demore muito...