Identidade
IDENTIDADE
Me perdi, nem de longe,
Sou o que um dia fui,
Fui cético, intransigente,
Sonhador, meus sonhos?
Perderam-se,
A ternura ?
Não a trago mais dentro de mim,
Não me reconheço,
Nem sei se existi,
Lembranças me mostram o rosto,
Que não traduz o meu eu,
Despi-me diante de mim,
No espelho outro ser apareceu,
Esse ser não sou eu,
Ou sou eu? Um eu alterado,
Transfigurado, irreconhecível,
Irredutível,
Sinto saudades de mim,
Dos sonhos que se foram,
Arrastados por um turbilhão,
De ilusões,
Hoje a solidão açoita,
A minha alma mórbida,
A canção tão distante,
Tudo é penumbra,
Num sorriso descontente,
Tento enganar,
A mim e a você,
Você que sou,
Disfarçado de alguém,
Que nunca existiu,
Sequer nasceu,
Um sorriso débil,
Desprovida de esperança,
Grito , a resposta é o vácuo,
Os olhos enchem-se de lágrimas,
Que teimam em cair,
Respigam sobre a folha de papel,
Onde um nome grafado,
Em letras minúsculas,
Quase incompreensível,
Faz me lembrar,
Do tempo em que tinha medo,
De escuridão, de fantasma,
Nos braços de minha mãe,
Aconchegava-me
Dormia sobre as carícias de suas mãos,
Uma tontura de leve me toma,
Encostado na parede nua,
Eu que ontem fui,
Não existo mais,
O que restou de mim,
Está de partida,
Lentamente fecho os olhos,
Esboço um sorriso que parece
Deboche, e o vento fecha a janela,
O mundo agora cinza,
A luz do candelabro se apaga,
As pálpebras se fecham,
Não consigo blasfemar, lastimar,
Cantar, recitar, o poema do Adeus,
Despojada de mim,
Sinto frio, não um frio qualquer,
Mas o frio...
Gélido da morte.
Polly hundson