ADEUS
Eu disse adeus abstersa,
Num gesto, deixei de olhar...
Fechei a porta entreaberta
A quem não queria entrar.
Eu disse adeus sem chorar,
Sem dramas, sem rompimentos,
Ficou pairando no ar
O fio de um sentimento.
Eu disse adeus num gemido,
De sopro quase inaudível,
Ficou perdido o sentido
De um sonho não mais plausível...
Eu disse adeus porque quis,
Pés nús sobre o frio chão
Do solo tão duro e gris
Da minha desilusão!
Eu disse adeus sem lamentos,
Parti sem voltar o rosto
A quem cultivou tormentos,
A quem destilou desgosto.
Eu disse adeus em silêncio,
Lamentando a indiferença...
Meus passos soaram tensos
Nas lajes da mal-querença.
Eu disse adeus, e é tudo
O que eu podia dizer...
E quem permaneceu mudo,
Não há de me ver morrer.
De:
Purificação sem adeus acertado
despedida sem encontro marcado
silêncio de mutismo violado
sonhos não sonhados
urdiduras alheadas
estradas não caminhadas
mortes não assistidas
dramas inexistentes
sobre um liso chão ardente.