Artemisia absinthium

Olhando a tela, inerte e catatônico

sob os destroços de um mundo platônico

rasgo a madrugada a fora, em frente à TV

Na noite escura de tom negro degradê

Já quente e derretido, o delicioso pavê

marca o tempo ao passar e o coração não vê

Meus livros abandonados junto à sobremesa

Grudados no açúcar que escorre da mesa

Misturado ao sal das lágrimas no rosto

provo as ervas de um palato oposto

ao sorver na boca da losna o gosto

ao invés do doce sabor do mosto

Ah, o doce! O único doce que lembro

escorreu minha língua último setembro

Agora, de Artemisia, tudo o que sinto

é um amargo de lembrança e de absinto

O Errante navegante
Enviado por O Errante navegante em 29/11/2015
Reeditado em 29/11/2015
Código do texto: T5464607
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