ANGÚSTIA
Altas horas, luz acesa,
Ar de estranheza.

O olhar cisma, desliza,
Na parede Liza.

Apesar do calor, o corpo treme,
Em silêncio, a alma geme.

Deseja gritar, explodir,
Deixar a inquietude fluir...

Sair da baça rotina,
Da insustentável sina.

Servir e não ser servida,
Doar tanto amor, tanta vida.

Marido, filhos, netos,
Deixar de ser objeto direto,

O para raio da casa,
Deseja mover as asas,

Ainda que não tenha,
Atravessar as brenhas,

Da inglória realidade,
Ser senhora de si, da liberdade.

Aproveitar o tempo que lhe resta,
Fazer dele, uma festa.

Ter direito à loucura,
Sem receios, sem censura.

Desfolhada açucena,
Alma limitada, que pena!

Não pode fazer nada, a não ser,
Transformar o grito em pranto, se render,

Ao cotidiano, aos seus conceitos,
E mergulhar a angústia no amarrotado leito.