Inocente Vilão

O grande vilão de ataques desferidos gratuitamente à inocentes não é o barulho ensurdecedor de cada bomba detonada ou o ritmo caótico das múltiplas balas disparadas com destino certo. O grande vilão destas cenas apocalípticas é o silêncio deixado, fundo afincado, no peito e na alma dos vivos diante dos mortos. Silêncio que cala cada vítima, presente ou distante, e escurece o olhar colorido, então distraído, com cenas angustiantes. Inocente silêncio usado sem sentido por interesses complexos. Iludido silêncio que ao invés de paz traz medo embutido. Indelével silêncio que perdura com o passar do tempo. De vilão à vítima, o silêncio então é enganado.

Saudoso puro silêncio, sem intervenções, sem uso inoportuno, mantido fora do caos, unicamente convocado para reflexões e demonstrações de respeito. Um vilão que também se torna vítima desnecessária usada a esmo e que carrega em seus ombros o peso imensurável do terror, do extremismo.

Silêncio emudecido que hoje merece a si mesmo. Merecido silêncio.

Flavio Marcondes
Enviado por Flavio Marcondes em 19/11/2015
Reeditado em 28/07/2016
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