Estrofe em terça rima num tempo futuro
(Em 1828, em Quixeramobim, no Ceará, nasce Antônio Conselheiro. Com o seu nascimento um homem deveras idoso, cujo nome é ignorado, tanto quanto sua idade avançada, teve uma terrífica visão que dizia respeito àquele que acabava de nascer. Depois da visão o velho morreu, levando consigo o que havia profetizado.)
1.
“O Exército brasileiro destruirá Canudos!
Morte torridamente endêmica
Àqueles que de temor serão desnudos!
2.
Serão rudes! Sem alma acadêmica!
Cinco mil soldados morrerão,
Neste palco de terrífica arte cênica!
3.
Desmedida fortuna esbanjarão
Para armar e alimentar
Aquela tropa de repressão!
4.
Irmãos da mesma terra a matar
Outros irmãos daquela terra seca
Dum Sol inclemente a maltratar
5.
Corpos grosseiros que seda
Jamais deveras vestiram,
Abrigando alma jamais leda!
6.
A Paz a eles mentiram
A sua promessa fingida!
‘A vida eis que me tiram!’
7.
Assim será redigida
A voz aflita do povo que morrerá
(Em miséria como monumento erigida)
8.
Pela pena do Euclides perpetuar-se-á!
Aquela covarde e injusta matança
Que ao Brasil por inteiro infectará!
9.
Do cansado idoso à inocente criança,
Todos eles morrerão,
Tanto quanto de cada um a sua esperança
10.
Aqueles carniceiros enterrarão!
E ao povo do Brasil apresentar-se-á
Aquela mísera chusma como infecção!
11.
Um ato de saneamento é o que será,
Contra as forças do atraso e do fanatismo,
Como imperativo exemplo então servirá!
12.
Sanguinolento e trágico fatalismo!
Uma represa então nascerá,
Como que dum nobre idealismo!
Mas a antiga cidade apenas abrigará.”