VEM VER

" As aparências enganam, há os que gelam e há os que inflamam, porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões.

" Mas o verão que os unira ainda vive e transpira ali, nos corpos juntos, na lareira, na reticente primavera, no insistente perfume de alguma coisa chamada amor." (Letra de Sérgio Natureza, canta Elis Regina)

Estava tão perto e tão longe das coisas

que eu sempre desejara

e deste sol que brilha tão

incandescentemente...

e assim eu tremo e perco o chão e

ergo os braços a uma divindade

nem conhecida...

eu sou a planta esquecida

dos grandes momentos de tristeza

e a flor que nem sabe se nasceu e

se um dia vai murchar

em tantos jardins evocados.

Eu busco a vida, e os livros

não falam a minha língua,

e os pássaros voam em seus voares

tristemente reais.

A mão dos amigos não toca meu coração

que está um pouco aquém dos toques

e tudo é tão intensamente frio e solitário

nesta sequência de fotos!

Em quantas partes se divide o sofrimento

nas voltas do tempo?

Vem olhar o que está neste palco sem atores,

vem olhar os cenários que se ressecam,

e se enchem de poeiras indiferentes,

vem ver o que minhas mãos ainda escrevem

o que nunca você percebeu

nesses instantes em que seguíamos

pensando que a vida era eterna!

Os dias sem revelações são pequenas folhas

que o vento vai empurrando

nas fendas dos caminhos!

O que sobrou dessa ânsia

de vencer o tempo?

pedaços de verdades,

uma caixa de recortes,

fotos, restos de momentos,

instantes que caem como

chuva fina, esparsos e fluidos,

e se desmancham entre os dedos

e refrigeram nossa febre...

Vem ver o que é explosivamente real

nestes dias de inverno prolongado

de camas frias e cortinas fechadas,

o que é tão concretamente vívido

e cruel nas entranhas,

vem ver os passos sem fim da solidão

e os espaços sem remédio

que nenhum sonho bom mais preenche.

E os passos sem direção e o choro sem fim

nas dobras dos travesseiros.

Resta o frio, após um verão flamejante

e enganador.

Restam a pele marcada e ainda viva

e as brasas da lareira,

e palavras... e um resto de vida por viver...

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 28/06/2007
Reeditado em 23/05/2011
Código do texto: T544458
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