Todas as coisas

Todas as coisas me escapam dos dedos,

voam por entre as frestas da janela,

se perdem no vão da vida,

me deixam na solidão dos tempos...

Todas as coisas me tiram o chão dos pés,

dobram esquinas para não mais voltar,

somem nas várzeas do destino,

me lançam ao desespero sem fé...

Todas as coisas subvertem minha pouca sanidade,

entoam delírios de uma melancolia ébria,

consomem-se na fogueira de vaidades alheias,

me arrancam de qualquer verdade...

Todas as coisas lançam espinhos sobre o caminho,

fazem sangrar carne e alma em dor e angústia,

apedrejam meu teto de vidro até que se estilhasse,

me deixam na margem enquanto definho...

Todas as coisas em que acreditei,

Todas as coisas com as quais sonhei,

Todas as coisas que afinal realizei,

Tudo tão frágil, fugaz e agora ausente...