Ceifa

A morte quis ceifar ao trigo maduro,

Mas, juro, mesmo assim, não foi fácil;

Como se, o cenho Divino ficasse escuro,

Não obstante, ter nos socorrido grácil...

Claro que a tristeza espana certa poeira,

De superficialidades e melindres vãos;

A brisa fria da morte sopra nossa peneira,

E separa preciso, aos ciscos dos grãos..

.

Quem mais nos faria tão gentis, pródigos,

Se não a dama de foice e escuro avental;

Vendemos imperfeições a preços módicos,

E elevamos às virtudes num alto pedestal...

Ignoro se confere deveras o que me ocorre,

Que me julguem entendidos na arte de Tales;

Mas, sempre que alguém dos nossos morre,

Acho que morrem um pouco dos nossos males...

Então, não sendo dono, nada tiraram de mim,

Minha aquiescência ao querer Divino aporto;

vá com Deus minha velha, pois, ele quis assim,

diga-lhe, que minha vida tá dura, mas, suporto...

A Auracélia Santiago dos Santos, viúva de meu falecido pai, que partiu hoje.