A colina
Olho para a cidade sob meus pés,
luzes de natal piscando em morros distantes,
da colina só vejo carros serprenteando nas ruas,
e penso em como seria bom encontrar um rosto conhecido,
alguém que bebesse um copo comigo sem me julgar,
a quem pudesse contar as aventuras da estrada,
rir de piadas há muito esquecidas em meio às noites sem dias,
chorar as dores curadas à ferro e fogo de lutas vencidas e perdidas...
Olho para essa cartografia de prédios iluminados,
casas de famílias e pessoas reunidas em torno de TV's,
pais colocando filhos para dormir após o jantar,
e penso sobre tudo que deixei de ter para ser esse andarilho de hoje,
triste e solitário sobre a colina de um corvo com asas quebradas,
sem vôos libertos por espaços nunca antes vislumbrados,
esperando encontrar no lago o reflexo do que nunca foi,
o devaneio daquela que jamais segurou em minha mão ao luar...
Olho para esse labirinto de sentimentos confusos,
sensações de dor e amor, ódio e perdão, esquecimento e memória,
na contradição de uma vida que não retornará ao ponto de origem,
e penso nos erros e acertos, nos vazios que fizeram morada em mim,
lágrimas derramadas sobre travesseiros frios em camas estranhas,
coração endurecido pelos espinhos de um caminho tortuoso,
tentando ouvir palavras de sabedoria e serenidade nessa colina,
para fazer as pazes com minhas derrapadas nas curvas do destino...