Aguardo o telefone, cética o afirmar, armada sem flôres por amar, ansiosa
E me agito na cadeira, no sofá que me castiga, sono questionador incauto
Espero o som, este tilintar, dôbro da música de cada dia, mais incansável!
Numa sala vazia móveis de filósofo, mesmo mulher e dama, sou poetisa!
Sofrerei a fome de aguardar na voz pacífica de um amôr inexistente, inábil
E minha guerra é a do dia de lavar a roupa ou sentar pra ler, escrever bem
Não casei, não amei, carecer de ser, estou solitária num mundo de moças
Jamais homens vieram a mim, desejar meu reino, mas esperei inutilmente
A cada envasar das horas, no oleiro do tempo, entrego-me à esperançosas
Verdades que me consomem as estrelas de meu sistema, cosmogonia fiel!
Se não amo, escrevo cartas lerdas, mas o que sei ao amar senhoras lindas
Está num peito que se machuca, distendendo fraturas, machucado destino
O aparelho me engana, diz tocar e emudece silêncios, carregados de ecos
A minha farsa de conter o desejo inculto, o jamais satisfeito, este coração
Tentativas de ouvir o insondável me custará não a tarifa de ligar, uma vida
Mas nesta que de poetisa de cardíacas lisonjas sabe pouco do sentimento
Após o sofrer, o bom trabalho, as sílabas transpostas pra uma verdade una
Tudo que faço é obra bonita, os mais belos cantos e dizeres, a encarecida
Disso dependo o ouvir esta máquina moderna que toca falências urbanistas
Em vão nada ouvirei, perdida desencatada, aurora de ficar poeta resignada!
E coloco o óculos, a alvorada é dia, a noite álibi da inverdade, jamais amou
Um dia terei a resposta ao descoberto, num certo esgar da hora, querida...