CENÁRIO
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Pernoitar em si, adormecer de si, acordar sem si...
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Os dias escorem
são como rios que passam ligeiros
fazendo tilintar sem volta o ponteiro das horas
pondo o pão, negando o vinho.
Os dias não findam
e essa continuidade descontinuada
desfaz, refaz, emenda, interrompe caminhos
moeda de muitas faces que vive redemoinhos.
Os dias são badalos de sinos
anunciando o sol, ressoando o riso,
percutindo o som da lágrima do olho insone
que em vigília procura a lua que vive dormindo.
Os dias são labirintos
galerias que entrecruzam-se solitárias
emaranhados de instantes- passagens-
onde não há paragens apenas o infinito fio.
Os dias são desafios
que no interlúdio desafinam queres
que vestem-se comedia, dramatização
trechos da vida em atos que decompõem a composição.
Os dias são caracóis
conchas espiraladas que recolhem pó
que espelham e desdobram sombras
matizando-as ao seu bel prazer no escolhido tom.
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JP21082015-12:30