A dor que se tenta esquecer
A DOR QUE SE TENTA ESQUECER
Quantas vezes
Dizes esquecer,
Mas não podes esconder:
A traição que me rasgou o corpo.
O corpo que te tapou o gesto.
O gesto que te alentou a vida.
Quantas vezes
Soletras ódio.
O ódio que destrói a alma.
A alma que sustém a vida.
A vida que retém a dor.
A dor que me sobra tanto.
O tanto que te dei
E que canto.
Quantas vezes
De luto me visto.
Visto dar sem receber
Receber nada, que nada tenho
Tenho a dor que não quis
Quisera alguém sofrer?
Quantas vezes
De cor me visto.
Visto que só luto me deste.
Deste amor sem amar
Amar sem amor não compensa
Compensa perdidamente ficar.
Ficar?! Só quando o amor apareça.
Quantas vezes
Hesitei e não parti.
Parti sem coragem e voltei
Voltei a morrer e morri
Morri mas ressuscitarei.
Sabes:
O amor perdido por vezes
À espera que algo aconteça
Retém o corpo por meses
E nós ficamos sem pressa
Quantas vezes
Deveria ter partido
E mais partido fiquei.
Rogério Martins Simões
Maio de1979
Publicado
(Caderno “Uma dúzia de Páginas de Poesia n.º 41)