Apenas Um Corpo
Essa noite eu esqueci as luzes acesas,
A porta da frente ficou aberta
E o vento bate as janelas do meu quarto.
Eu não me cobri, porque eu não sinto...
Não sinto frio, não sinto calor,
Nem mesmo o medo que antes sentia.
A tv ficou ligada,
Adriana Calcanhoto canta suas dores
Mas eu continuo inerte, porque já não mais ouço...
Não ouço o som que toma conta da casa,
Não ouço o som da chuva que cai com raiva lá fora,
Não ouço nem mesmo o meu som.
Deixei a torneira aberta,
A banheira transborda e enche a casa.
A água sobe pela cama e lambe minhas pernas.
E eu não vejo...
Meus olhos não reagem mais à luz,
Eu não vi quando tudo começou e não verei o fim,
Não vejo nenhuma saída e isso não me preocupa.
Eu não estou mais aqui,
Então deixo meu corpo ser engolido
Para que se junte à alma que vaga perdida.