ELEGIA
Ó morte
erga-te das trevas
esguia e silenciosa
em álgida noite triste e nevoenta
quero ver teus olhos funestos
em brasa-viva qual púrpura reluzente
fuzilar-me com um olhar penetrante
e ouvir o ecoar de tua fria voz
dissolver-se na imensidão da noite.
Ó morte
leve-me embora
mesmo que em vão
mas leve-me daqui
seguirei hesitante teus passos incertos
trilhando teus mesmos caminhos
dê-me de tuas descarnadas mãos
guie-me para o além
leve-me contigo
por uma estrada tortuosa
deixe-me segui-la em vossa jornada.
Ó morte
leve-me agora
transporte-me a vossas paragens
numa carruagem em chamas ardentes
rasgando o espaço feito o Hallen
permita-me ser teu fiel seguidor
deixe-me ser parte dessa família
fazer parte das tristes lembranças
habitando vosso reino
onde reina a paz.
Ó morte
descerre-me os portais
mostre-me teu palácio mal-ajambrado
com arquitetura em estilo gótico
ornados de sorumbáticas molduras
conduza-me a um inóspito aposento
permita-me deitar a teu lado
dormir o sono perpétuo dos mortos
extasiar-me na podridão da sepultura.