A realidade do tempo

Não olhe para mim desse jeito,

como se eu lhe devesse desculpas todo o tempo,

vivemos o que tinha para ser vivido,

as coisas mudam, nós mudamos, tudo passa,

enquanto sua raiva bate mais forte que seu coração,

tu jogas fora todas as boas lembranças,

te esqueces dos momentos de riso e jovialidade,

faz de nossos caminhos opostos um barulho imenso,

e cá estamos andando por cacos de vidro,

deixando sangrar nossas vidas,

quando deveríamos simplesmente deixar acontecer,

nada dura mesmo para sempre,

nenhuma história de amor é um conto de fadas,

não existem finais felizes,

somos a realidade do tempo,

somos carne, osso e sofrimento,

lidar com isso torna os fatos mais suportáveis,

nos impede de ficar aprisionados em falsas ilusões,

nos protege de promessas demagogas,

nos impele a ver o horizonte apenas como uma estrada a mais,

porque no final somos tudo o que restou de nós mesmos,

somos essa coleção de espelhos quebrados,

mil anos de azar na solidão de cada relacionamento,

racionando sentimentos de felicidade como oásis no deserto,

sobrevivendo à salinização de nossas almas,

como moribundos eternos de um mundo sem saídas de emergência,

somos apenas isso e mais um pouco,

então não me culpe se nada der certo,

destino e escolhas são um tipo raro de água e azeite misturados,

então deixe essa pose de menina mimada para trás,

desfaça essa carranca que não virará totem,

e siga em frente como é para ser feito,

de qualquer modo estaremos sempre juntos,

mesmos separados...