A MINHA MADRUGADA
Chove o pingo,mais que bem vindo e também não tanto assim,
porque trata-se de vidas nas comunidades.
Ele desce,desce,pousa que nem folha,
cheira,cheira que nem perfume,
que tão límpida brota no dorso do Barro Branco.
Branco,que de branco não há nada,
o que se ver são pás,enxadas,são mãos,são unhas,são pretos.
Chove,chove aquele sangue gelado,
fruto do (des)serviço que deveria ser tudo,
que agora pinga,pinga porque o cenário agora é de morte.
E ela desce,desce,plana no solo vermelho que aos montes agora corre,feito lama,junto à lama,que ao fundo enterra e o Marotinho encobre,se esconde.
Maroto,que de menino esperto adiantou nada,
num dia vivo no outro morte...morto!
Chove,chove lágrimas,uma chuva Torrencial de lágrimas,
que arrasta sonhos,arrasta fotos,vidas...mortes!
E ela desce,desce,desce vestindo o rosto de absolutamente todos,
o suco das lágrimas-dor,suco desses parentes,desses amigos,desconhecidos,formando águas rubro-negras da então parte "feia",da cidade de São Salvador.
Salvador,divindades religiosas diversas,aclamada por essas vidas outrora dezenas,no instante-segundo da morte,da última visão terrestre em barrotes,
do último sopro coração tão puro,que agora vaga carente tão norte,
tão sul,tão inútil,tão pouco,tampouco se é vida ou morte.
Entre corpos Navios-Negreiros seculares ao Mar gritarei,
Entre corpos abatidos no raso rastro da terra direi...
Vozes gritantes lançadas ao fundo do mar!
Ouvidos estridentes cavados abaixo da terra!
-Ei,ei!
-Alguém me ouve?
-Alguém me ouve?
(Somente um puro e aveludado eco silencioso)