A MINHA MADRUGADA

Chove o pingo,mais que bem vindo e também não tanto assim,

porque trata-se de vidas nas comunidades.

Ele desce,desce,pousa que nem folha,

cheira,cheira que nem perfume,

que tão límpida brota no dorso do Barro Branco.

Branco,que de branco não há nada,

o que se ver são pás,enxadas,são mãos,são unhas,são pretos.

Chove,chove aquele sangue gelado,

fruto do (des)serviço que deveria ser tudo,

que agora pinga,pinga porque o cenário agora é de morte.

E ela desce,desce,plana no solo vermelho que aos montes agora corre,feito lama,junto à lama,que ao fundo enterra e o Marotinho encobre,se esconde.

Maroto,que de menino esperto adiantou nada,

num dia vivo no outro morte...morto!

Chove,chove lágrimas,uma chuva Torrencial de lágrimas,

que arrasta sonhos,arrasta fotos,vidas...mortes!

E ela desce,desce,desce vestindo o rosto de absolutamente todos,

o suco das lágrimas-dor,suco desses parentes,desses amigos,desconhecidos,formando águas rubro-negras da então parte "feia",da cidade de São Salvador.

Salvador,divindades religiosas diversas,aclamada por essas vidas outrora dezenas,no instante-segundo da morte,da última visão terrestre em barrotes,

do último sopro coração tão puro,que agora vaga carente tão norte,

tão sul,tão inútil,tão pouco,tampouco se é vida ou morte.

Entre corpos Navios-Negreiros seculares ao Mar gritarei,

Entre corpos abatidos no raso rastro da terra direi...

Vozes gritantes lançadas ao fundo do mar!

Ouvidos estridentes cavados abaixo da terra!

-Ei,ei!

-Alguém me ouve?

-Alguém me ouve?

(Somente um puro e aveludado eco silencioso)

MARCONI MACHADO MENEZES
Enviado por MARCONI MACHADO MENEZES em 06/05/2015
Código do texto: T5232937
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