O choro de mil cordeiros

O suave chiado lá fora, no chão,

Fruto de garoa fria, suave, esquecida,

Chama minha atenção, e a ela estendo a mão

E o frio de vosso choro é em minha mão sentida.

Saio de casa sem casaco, sem chapéu, sem guarda chuva,

Sentindo o respingar constante e frio me preenchendo,

E as forças vão se esvaindo enquanto cruzo a realidade turva

Em que os monstros regurgitam os berros de cordeiros sofrendo.

Se usaram de mentiras para educar-nos em passividade

E tantos bons morrem mártires esquecidos e enlameados.

Nos consolamos com a ideia de que a boa ação atrai bondade,

Mas a paz, o amor e o carinho deixam os carniceiros alimentados.

E eles rirão, longa e ironicamente,

Quando em medo e receio, você pedir por piedade.

E quem te ama quebrará sua alma, corpo e mente,

Pois não haverá paz enquanto houver humanidade.

Hoje sou um cordeiro.

E quem fora meu anjo hoje é meu carcereiro.

E quem me jurou amor me deixa flutuando em anseio,

E hoje chupo a aflição em seu seio.

Entre mil outros inocentes que choram,

Minhas gotas na garoa em nada diferirão,

Mas são minhas, e eu vejo como no chão estouram

Num som surdo e indigno de atenção.

Meu amor, te pedi misericórdia,

Plantei boas sementes e recebi frutos envermeados.

Plantei paz e carinho, mas recebi ódio e discórdia,

E meu lamento não será notado sobre os outros condenados.

E por mais que eu te ofereça noites de carinho e de amor,

E prometa que sua felicidade é aquilo que me conduz,

Após tantos vômitos em minha face, tive que perceber:

Não há espaço na terra para aqueles que traçam o caminho da luz.

E para quem mais pedirei misericórdia

Quando meu anjo da guarda me açoita e sibila em rodeios?

Apenas para a lâmina que em minha frente reside

E meu sangue se une ao choro de mil cordeiros.

Isaque Lazaro
Enviado por Isaque Lazaro em 28/04/2015
Reeditado em 10/05/2015
Código do texto: T5223699
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