ESPANTALHOS

Quisera ter mil espantalhos
dentro de mim,
que assustassem meus
turvos sentimentos
e os lançassem
para fora do meu ser!

Há muito tento expulsá-los,
mas eles me sabem frágil.
Ilusórias pílulas de última geração!
Fluoxetinas, paroxetinas, sertralinas.
Químicas quimeras que apenas
camuflam corvos esfaimados.

Desafiados, voltam ainda mais vorazes,
extraindo de mim, grão por grão,
a força, o ânimo, a alegria, o brilho.
Como numa revoada histérica,
grasnam e zombam das sucessivas quedas
da minha pobre serotonina.