Faz muito frio em minha alma...
Maria Antônia Canavezi Scarpa
O vento veio ruidoso essa manhã
esbravejando beijou meus lábios e me convidou
para arrasar, destruir, derrubar
o que eu pudesse com ele fazer
arisco e vaidoso não permitiu que eu negasse
foi me instigando a prosseguir na sua louca
e vertiginosa devastação
Não me deu tempo de explicar
que só de estar mofado o ar, já é um motivo
para tingir de cinza o meu ânimo de acordar
mas de nada adianta esbravejar
ele me arrasta veloz para sibilar lá fora
amedrontar até a brisa que respeitosa
tenta me saldar
Ando tão cheia de perdas
assuntos, amores, idéias mal resolvidas
talvez por essa razão
quero resistir pois há uma urgência em renovar
existe um medo dentro de mim
que tudo ao ser revolvido
revele ainda mais dissabores
Faz muito frio em minha alma
descobertas as minhas entranhas choram
por estarem sem forças
deixam que o vento afoito as carreguem
desnudem-nas em seus vértices
até atingirem os abismos
que não oferecem o caminho de volta
Estou brincando de vencer barreiras
e uma geleira vai tomando corpo
ao redor da minha vida
deixando-me indefesa, gélida
impregnada desse vento frio e cruel
totalmente devasso invadindo tudo
que possa se aproximar de mim