Posto De Saúde Da Comunidade

Oito horas da manhã de inverno
No Posto de Saúde da comunidade
Pessoas desenganadas na desigualdade
(No outro lado da desigualdade!)
Enumeradas no declínio da piedade
Ali, como exemplares da vida esgotada!
Pessoas! Sem papel para mais nada...
Engodadas na teia de mentiras sociais
Disputando o seu dia-a-dia distante da grande cidade

... Pessoas-personagens ...

No enredo. Só. Em busca de solidariedade...
Empáfia vencida e vida comandada
E, o mínimo restante da sua dignidade
Hoje é correr atrás da velha ajuda forçada

Me pergunto onde estão todos aqueles homens...
Que vieram com seus ternos e à nossa gente prometeram...
E logo sumiram! tão rápido quanto mentiram...

Não há ninguém que vá ajudar ninguém agora.

Eis que de repente mudo o rumo
Dos meus olhares
Para a vida
(vida comunidade Tempo...)
Olho para o rosto flácido
De qualquer senhor ou senhora
E me enxergo! Futuramente...
Na fila, novo...
Com todos os dentes
Mas então mudo o rumo
Dos meus pensamentos
Para o Tempo
(Tempo comunidade vida...)
Nada nessa vida é tão perene
E, da mesma forma, tão efêmero
Quanto os próprios momentos!...
Acontecem e se eternizam e lá se vão
Embora com o vento...
A propósito eles nunca mais voltam!
E é então que eu mudo o rumo
Do meu raciocínio
Direto à comunidade
Eu vou das janelas brancas às luzes apagadas;
Do barro do chuvisco gelado à vida desgastada
Do meu palco, na terra... E no dia cinzento...
Que também acabara de se eternizar
Sem que cada uma daquelas pessoas se tocasse

Que o destino mostre
Algo na vida de cada um
Que, embora um coração muito bondoso,
Sejam vítimas de seu próprio senso comum.

- Já me cansei de ver isto!
Eu penso na comunidade. Ninguém pode notar-me
O chuvisco aperta e os guarda-chuvas entram em cena
Eu penso é em mudar o mundo! Ninguém pode regrar-me!

Nasci aqui, neste pequeno mundinho abafado
Mas aqui, muito encontrei paz sossegado...
Me pergunto sempre: Enfiar essas caraminholas
Na minha cabeça, agora,
Seria questão de loucura, ou de um passo adiantado?

Tudo bem,
Talvez não seja agora...
Estou na fila e eu respeito a minha hora.
Já que tudo tem o seu tempo marcado.
Tudo que preciso fazer é
Relacionar tudo isso...
Tudo o que eu estou vivendo:
O posto, a comunidade e o Tempo.

Ampulheta da Vida
E ampulheta do vento
Tenho o tempo...
Tudo bem! Tudo bem...
Eu me ajeito.

Mas se bem que esse mesmo tempo
O tempo que cede à nossa vida essa certa esquivança
É o tempo que finaliza a nossa honrosa história de andanças.

Saio do Tempo.
Miro os olhos no Posto,
Volto à comunidade.
(comunidade eternidade... Tempo)
De veneta viro o rumo dos meus olhos
Para o esqueleto sem saúde, com direito...
Tantos dias com saúde foi criança...
Brincou nas árvores de seu futuro
Hoje, as árvores brincam com outras crianças
E o esqueleto que os meus olhos viam
Tinha agora uma idade pesada
De vida de comunidade e de Tempo.
E a minha mente captando o momento
Mas... O que mais pesa, junto à sua garra afiada
É esse final decadente de todos os seus planos
De ver e ler e ouvir, por todos esses anos
Todos os tipos de tanta coisa errada...

Enfim...

O meu celular marca agora oito horas da manhã
O momento marca a vida na comunidade.
(comunidade e vida e Tempo...)
E a comunidade, que é viva no Tempo
Implora a consulta acordando bem cedo
Fico pensando naquilo e naquele outro
E no que a vida reserva pra mim...
Eu gosto de viver!
Seja na vida
Na comunidade
Ou no Tempo.

Oito horas da manhã,
Oito horas da manhã de uma vida inteira.
Oito horas da manhã de vidas nem tão inteiras.
Mas veja bem,
Meus olhos,
Meus rumos
Comunidade vida e Tempo...
Minha passagem
Minhas memórias
Ajudo no que eu posso

Sim!
Oito horas da manhã de uma vida inteira!

Ampulheta da vida...
Ampulheta dos ventos...

Tenho tempo!
Tudo bem! Tudo bem...
Vou rezar. Por sorte,
Eu me ajeito.
Holofote Cerebral
Enviado por Holofote Cerebral em 20/03/2015
Reeditado em 29/04/2015
Código do texto: T5177067
Classificação de conteúdo: seguro
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