Mistérios da meia noite
Anoitece no quarto vazio
É cedo, faz frio
Passou da hora de dormir
Quer chorar, de choro sorrir
Pelo chão, álbuns de fotografias
Recortadas de jornais amarelados
Livros, poesias e liturgias
Literaturas de corações despedaçados
É triste o fim de um poeta
Perde o direito à sua caneta
Acaba sozinho em um quarto escuro
Não enxerga mais vida, futuro
Sobe descalço escadas encardidas
Tão sujas quanto suas mãos descoradas
De tintas que nada escreveram, feridas
De tocar em paixões que não deram em nada
Vaga pelas calçadas largas de uma avenida
Não encontra pra sua pena, guarida
A alma nem com ele anda mais
Com devaneios e bebida, se satisfaz
Se soa meia-noite, há tempos o coração dorme
São mistérios das madrugadas vazias
Sem inspiração, a mente morre
E as mágoas, crescem arredias
Até a sombra lhe abandonou
Como não pode partir, de longe observa
Seu dono, poeta infeliz que um dia amou
E de pena, se consterna
Maldiz ele, os novos poetas
Diz que não sabem o quão irão sofrer
- Os poetas tornam-se antigas moedas
Na mão de quem os quiser obter!
Penso em um motivo pra esta triste criatura
Que sofreu por amar demais, por escrever
Um poeta nunca sorriu com candura?
- Não, um poeta só faz padecer!