O pau de arara não morreu

O pau de arara não morreu

Poucos privilegiados na boleia

A maioria na carroceria

Mas como sempre, comendo pó

A viagem é dura

A estrada não perdoa os frágeis

Só os fortes e insistentes chegam lá

Sovando a bunda, calejando a alma

Sonhando com comovente alegria

Por mudanças na história

Seguem com a tutameia da vida

Na carroceria do macabro caminhão

A boleia sofisticou

Tem banco de couro e ar condicionado

A carroceria também mudou

Há mais espaço, e se não houver se cria

As que não aguentam, morrem

São descartadas inclusive das estatísticas

As que sobrevivem, se espremem

E são alimentadas por histórias engraçadas

Contos que geram esperanças e expectativas

Mas sempre mal contadas

Distorcidas e alteradas

Suporte por anos, a seus dias de migalhas

A carroceria agora virou fila de hospital

Atendimento nas macas

Virou promessas de campanha eleitoral

Juros e preços altos

Enchentes, deslizamentos levando gente

Apertos no metrô e assaltos na lotação

Virou também milhares sem casa

Tantas outras entregues que ficarão trincadas

Virou desemprego e desilusão

Enfim...muita gente nos banquinhos do centro

Nas grades penduradas, até mesmo em cima dos pneus

Mas no mesmo terror de caminhão

João Azeredo
Enviado por João Azeredo em 13/03/2015
Reeditado em 13/03/2015
Código do texto: T5169019
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