O pau de arara não morreu
O pau de arara não morreu
Poucos privilegiados na boleia
A maioria na carroceria
Mas como sempre, comendo pó
A viagem é dura
A estrada não perdoa os frágeis
Só os fortes e insistentes chegam lá
Sovando a bunda, calejando a alma
Sonhando com comovente alegria
Por mudanças na história
Seguem com a tutameia da vida
Na carroceria do macabro caminhão
A boleia sofisticou
Tem banco de couro e ar condicionado
A carroceria também mudou
Há mais espaço, e se não houver se cria
As que não aguentam, morrem
São descartadas inclusive das estatísticas
As que sobrevivem, se espremem
E são alimentadas por histórias engraçadas
Contos que geram esperanças e expectativas
Mas sempre mal contadas
Distorcidas e alteradas
Suporte por anos, a seus dias de migalhas
A carroceria agora virou fila de hospital
Atendimento nas macas
Virou promessas de campanha eleitoral
Juros e preços altos
Enchentes, deslizamentos levando gente
Apertos no metrô e assaltos na lotação
Virou também milhares sem casa
Tantas outras entregues que ficarão trincadas
Virou desemprego e desilusão
Enfim...muita gente nos banquinhos do centro
Nas grades penduradas, até mesmo em cima dos pneus
Mas no mesmo terror de caminhão