Não é só tristeza de poeta.

Não é só tristeza de poeta.

Tristeza de poeta não é só tristeza

É a mais completa agonia.

Ela começa bem antes do fim;

Quando sete quedas caem pela força

De apenas uma mega rasteira multinacional.

Nem toda a energia que emana de Itaipu

Pode devolver-lhe seu quintal de sonhos,

Pedreiras e águas que arrepiam.

Olhar nos olhos dos peixes depois,

Deixar a vida seguir, comer frutas silvestres;

Bem longe das surras da lida braba.

Não há progresso que pague.

A casa do poeta, a poucos metros da usina,

Ficou sem luz por anos e décadas.

Tristeza de poeta não é só tristeza;

É comer o pão dos malditos em forma de poesia;

Vomitar palavras que doem, mas brilham...

É uma desventura insana e esquizofrênica,

É mesmo que ver a Amazônia ser rasgada

Como se fosse um pergaminho,

Ali, a desgraça dos povos foi escrita à mão armada.

Por pura estratégia; de guerra.

Depois, abandonada ao revés da própria sorte,

A mesma que não teve Chico Mendes. Infortúnio...

Morrendo aos pedaços de vida...

Tristeza de poeta, é ter um violão de madeira nobre

E tocar nele canções de hipocrisia

De quem financia a dor e a morte das florestas.

Tristeza de Poeta é ver o assassinato do Tietê,

O Egito é a dádiva do Nilo

A cidade com nome de santo é a desgraça de um rio.

Depois do assassinato a sangue frio,

Vem a sede que mata como um nordeste temporão

Fora de época e de lugar.

Tristeza de poeta e ter a sina de dizer coisa que sangram

Que cortam as carnes vivas, mas não sem antes cortar

O seu próprio pulso pra fertilizar a terra...

Carlinhos Matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 12/03/2015
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