QUANDO UM POETA SE CALA

O mundo nunca é o mesmo

As pessoas nunca sofrem iguais

Os amores não são verdadeiros

Seres humanos viram animais

O Sol já não brilha tanto assim

A Lua nem mesmo aparece

Estrelas apagam e caem em bando

As palavras ricas empobrecem

Sim calei por muitos motivos

Por motivos de muita pressão

muitos sérios até demais

Muitos tantos simples ilusão

Desculpas aos que me procuraram

E eu não apareci

Desculpas aos que me chamaram

E eu não respondi

Minha mente calou minha voz

Meus ouvidos fechou os meus olhos

Minha mãos retearam minhas pernas

De minhas obras sequer o espólio

Nem o bichano me fez sorri

Nem o humano me fez pensar

Não tentei sair de minha letargia

Preferi a mim mesmo ignorar

Confusões, contusões e malefícios

Torres, montanhas e precipícios

Um escuridão absurda se abateu

Levou do Poeta o verso que era meu

Quando um poeta se cala

Não existe mundo

Todas as intenções e ações

São um fardo imundo

Quando um poeta se cala

Não mais existe vida

Quando um poeta se cala

Abrem-se feridas

Não deixem o poeta calado

Em sua moradia absurda

Levem o poeta em seu peito

Como uma sinfonia surda

Dê ao Poeta um sorriso e um beijo

Dê ao Poeta ferido um motivo para amar

Dê ao Poeta uma folha e um lápis preto

Dê ao poeta tristeza para lhe inspirar

Quando um Poeta se cala

Nem mesmo a explosão faz ruido

O venta já não sopra

O livro já não é lido

Mas um Poeta que se preza

Não se cala por muito

Logo algo acontece

Que mudo isso tudo

Amor não correspondido

O abandono de um amigo

A impotência frente ao cálice

A tristeza sem disfarce

Basta apenas uma lágrima

Que ao cair em uma folha

Transforma-se em tinta

E cria a amálgama

Que une a tristeza e o Poeta