Era uma vez, a esperança

Cheguei do ontem.

Depus as asas.

Teceu-me a carne

uma marca na fronte.

Migalha.

Onde é o horizonte

senão no oposto da treva?

Como ir ao seu encontro

se o sonho blefa?

Melancolia do que reina na aurora.

Quando os pássaros celebram a vida

e a vida chora.

Então, elevem-me às rosas,

para que eu ainda lembre da beleza

na palavra, no gesto sem sombras.

E no mesmo sol dos fins de tarde,

quando a luz me põe à mesa.