A viagem

Os ventos sopram ao anoitecer.

É setembro e o dia acaba de adormecer.

As horas passam depressa.

Faço, com esperança, a minha reza.

Espero ter, em abundância, a minha seva.

Meu corpo já não é meu.

Fui vendido, trocado.

Ainda bem que foi por isso.

Meu irmãozinho, por dinheiro menor, morreu.

Como é grande a nossa ignorância!

Que por arrogância, me fez vender minhas partes.

Partes estas, que fazem meu corpo funcionar.

Eu sou vítima do tráfico de órgãos.

E o meu coraçãozinho eu vou ter que retirar.

Minha família passa fome,

e pra não ver o meu outro irmão chorar,

vou ter que me sacrificar.

Só não sei se morro pelo dinheiro,

ou pra não vê-lo de terra se alimentar.

Minha mãe não me explicou,

só mandou-me pra clínica.

Que de lá, eu iria me mudar.

Iria pro céu,

onde os meus outros irmãos poderiam estar.

Só peço ao papai do céu

que mais força pra minha mãe ele possa dar.

Por que ela já vendeu um dos rins.

E o outro

só falta o moço da clínica buscar.

Sabe por que ela faz isso?

Para que meu irmãozinho mais novo possa prosperar.

Ela está grávida,

e mais um filho vai precisar se alimentar.

Ela prefere a morte,

pois ver os outros 6 já não foi fácil lidar.

Ela não vai deixar.

E por obséquio,

todos os seus órgãos ela vai retirar.

Caio Vieira
Enviado por Caio Vieira em 11/02/2015
Reeditado em 11/02/2015
Código do texto: T5134011
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