O amanhã vertiginoso
Ó mancha impregnada de merencória
O clássico exemplo da vida inglória
Desprovido da galhardia de um herói
Meu norte o tempo célere corrói
Ó visceral e inexprimível dor
A fazer-me fremir na madrugada em langor
Em séquito o agouro retumbante
A dilacerar-me o peito em sádico levante
A sobriedade entra em descenso
Pois acometido de vertigem
Em mim inexiste o bom senso
Vou vagando na funesta viagem
Os sinais vitais perdem-se na diafaneidade
Á beira da cordilheira da insanidade
O desespero é meu pálido estandarte
Pois resignei-me a viver na medíocre arte
Ó vulto a usurpar minha rara paz
A beleza do mundo já não me é apraz
Simplesmente rendo-me no vazio fugaz
Sinistro fenômeno que o destino traz
Em devaneios vejo-me em mortalha
Derramo lágrimas de chorume
E todo corpo envolvido no fosco negrume
Na pagina derradeira da cruel batalha
Meu sangue dilui-se a erva daninha
Da pençonha da sorrateira serpente
A toler-me o prazer de viver, de repente
No vôo cego o espírito se desalinha
Aos meus pecados não haverá remissão
Posto que a fé ocultei na escuridão
O amanhã não há de vingar forte
Quiçá porque me espreita a morte