O amanhã vertiginoso

Ó mancha impregnada de merencória

O clássico exemplo da vida inglória

Desprovido da galhardia de um herói

Meu norte o tempo célere corrói

Ó visceral e inexprimível dor

A fazer-me fremir na madrugada em langor

Em séquito o agouro retumbante

A dilacerar-me o peito em sádico levante

A sobriedade entra em descenso

Pois acometido de vertigem

Em mim inexiste o bom senso

Vou vagando na funesta viagem

Os sinais vitais perdem-se na diafaneidade

Á beira da cordilheira da insanidade

O desespero é meu pálido estandarte

Pois resignei-me a viver na medíocre arte

Ó vulto a usurpar minha rara paz

A beleza do mundo já não me é apraz

Simplesmente rendo-me no vazio fugaz

Sinistro fenômeno que o destino traz

Em devaneios vejo-me em mortalha

Derramo lágrimas de chorume

E todo corpo envolvido no fosco negrume

Na pagina derradeira da cruel batalha

Meu sangue dilui-se a erva daninha

Da pençonha da sorrateira serpente

A toler-me o prazer de viver, de repente

No vôo cego o espírito se desalinha

Aos meus pecados não haverá remissão

Posto que a fé ocultei na escuridão

O amanhã não há de vingar forte

Quiçá porque me espreita a morte

Alex Melloh
Enviado por Alex Melloh em 04/02/2015
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