ONDINAS

"Solidão, solidão, tudo é solidão". Disse o homem do quarto escuro.

O moço abriu a janela de seu aposento para ver o mundo.

E este estava vazio.

Tão solitário quanto seu leito; um leito sem mácula de um pecador arrependido.

Há solidão nessa esfera que gira; em cada giro seu se esvai meu sonho e o teu.

Eles são nuvens, são fumaças; vapores que sobem da terra e não voltam mais.

O moço franzino, de lençol na mão, suplicou ao mundo um amigo.

- Quem tem amigo, tem inimigo; o homem é como o camaleão.

- Sim, mas o nada de nada é igual a nada!

- Quem tem o nada tem alguma coisa!

"Solidão, solidão, tudo é solidão. Disse o mago do quarto escuro.

O homem foi ao centro, fez um seguro; garantiu sua vida.

A morte não tem garantia; se paga à vista e não há devolução.

Viver é da escada apenas uma subida; uma alma sempre sofrida, contudo, sem medo de ser.

O rapaz, de vela na mão ascendeu sua luz mais uma vez e fez um pedido: "Companhia".

- Amiga caridade, faça-me uma bondade! Será que tem alguém no mundo?

- Não se pode confiar na sombra dos outros!

- Mas, essa sorte? Que desgraça ser um ser!

- Precisas ser forte!

- Sou um fraco, que mora no quarto, tão escuro como o mundo.

"Solidão, solidão, tudo é solidão. Diz o poeta.

Amei cedo uma moça garrida.

Sua pele era seda pura.

Seus seios duas peras maduras.

Suas coxas eram eram como o mármore polido.

Fui flexado pelo cupido. "Má sorte minha".

A moça virou retrato, de um quarto escuro, de um morador da rua sinistra onde ninguém passa.

- Desgraça!

- Não diga isso.

- Quem?

Uma ondina me disse um dia: "No mundo tem companhia; inclina o peito, abre os olhos para ver direito..."

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 02/02/2015
Reeditado em 14/11/2016
Código do texto: T5122768
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