Novos dias, velhos ais
Novos dias
as paredes se estreitam fechando o cerco
outrora luz abundante
hoje sombras com tantos ais
e minhas dores em relevo
só escorrem
só morrem
enquanto bebo e escrevo .
Novos dias
o colchão pulguento pula e estala e o gato mia
outrora dormia
hoje só agonia
em lentos lapsos ,de coordenação nos pés da mesa
só espera
só moléstia
enquanto o cão late e se coça
Novos dias
desempregado , me mordo inteiro de angústia
outrora vinho tinto
hoje água de torneira
coliformes fecais nadando na língua
só infectam
só esperam
enquanto bebo e escrevo.
Novos dias
o telefone jamais toca de manhã , nem a tarde tampouco a noite
outrora cantava
hoje desbrava
a solidão das palavras, de um amor que não é recíproco
só mudo
só murro
enquanto as paredes aguentam todo o surto.