A Chuva

Gotas de pesar despencam do infinito,

O escuro chora sobre nós incessante.

É inescapável o sofrimento em mim inscrito.

O fim solitário de um caminho errante.

As árvores secas nessa noite de verdades,

Testemunhas mortas do julgamento injusto,

Retorcem-se em horror à nossas vaidades

E cedem de volta no ciclo augusto.

Cai a chuva nessa noite solitária

E nenhuma alma segurará minha mão.

Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária

E o mundo ignorará essa canção.

Nos pântanos pútridos e mórbidos

Agonizam perenemente os anjos caídos.

Aprisionados ao deixar os caminhos acólitos

Choram, de suas asas destituídos.

A única luz hoje será a de raios raivosos

Que fustigam a terra com golpes inclementes

Inibindo-a com seus brados ruidosos

Me mantendo em castigos permanentes.

Pois o homem que desafia o próprio destino

E põe seus sentimentos acima do fadário

Seguirá eternamente a vida sob triste hino

Sem a chance de estar novamente sob rosário

Enterrado entre mortos sem nome

Nesse baile faço par com anjos caídos

Que por acreditar, morrem de fome

Agonizantes, assustados e esquecidos.

A rosa negra desamparada,

Sozinha sob a chuva assoladora,

Vivendo seu último momento calada,

Punida nessa noite assustadora.

Rastejando humilhado para o fim,

Esforço-me para respirar e seguir o caminho.

Tentando me ocultar do motim

Me encontro derrubado, vazio e sozinho.

Oh, e a chuva não leva de mim a tristeza!

A solidão e o pesar encravados fundo em meu peito!

Chuva! Choro por tua gentileza!

Ouça-me, pois por redenção e paz tudo aceito!

A terra é purificada pelas lagrimas tuas

Então lava-me em meu desespero!

Preencha meu vazio com tuas gotas nuas

Que me atingem desse modo austero!

Na terra encharcada ajoelhado

Sem redenção por tentar ser amado

Sob as próprias lágrimas afogado

Caído num infinito negro. Derrotado.

Cai a chuva nessa noite solitária

E nenhuma alma segurará minha mão.

Meu choro unir-se-á à chuva nessa ária

E o mundo ignorará essa canção.

(Domingo, 16 de Outubro de 2011)

Isaque Lazaro
Enviado por Isaque Lazaro em 14/01/2015
Código do texto: T5101567
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