Dois Pólos
Menina, já te disse
que a felicidade não se expõe.
Te digo, bem feito.
Te disse que a felicidade não se grita,
o mundo, tenho dito,
se incomoda com aquele seu bom humor.
O mesmo mundo que tanto te acolhe
a tempos não é mais o seu lar.
Ainda que espante àqueles que lêem,
o céu também não é uma opção.
Queria poder escrever mais uma rima
Mais um daqueles versos cheios de significado.
Mas me falta vontade, ânimo, coragem
pra falar da dó que tenho de sua nova vida.
Essa sua angústia repentina
por tudo aquilo que considerava importante.
Essa tua fuga covarde
dos conflitos que a vida lhe impõe.
Envergonho-me por um dia me orgulhar de você
Achar que seu jeito espontâneo seria essencial,
achar que tua força era descomunal
E agora ver a podridão que se tornou.
E o pior, menina, é que se enganas,
achando que o bem está ao teu lado.
Te querem bem? Te esperam o bem?
Não custa sonhar, idiota!
A sociedade se preocupa com o normal
E o meu normal eu cansei!
Chega de rima, verso feito e escrita esperada
Falarei, e mudarei, como você.
Nada é tão fácil quanto você acha que é
O mar de rosas que pensas da vida fede a estrume
E esse tanto que você esperava das pessoas
Voltará a ti como uma estaca cravada no peito.
Esse silêncio que tanto reclamas,
Um dia será ansiado por ti,
Quando a vida que vives agora
te lotar de perguntas que não poderás responder.
Estou cansando desse teu jeito explosivo,
dessa sua depressão que nunca tem um fim
E esse nojo que agora tens de ti,
é compartilhado por mim.
Essa tua frescura quanto a tudo,
esse aperto no peito que falas todos os dias,
me enojo de ti por sentires tanto isso
e por ainda querer viver assim.
Essa vontade que tens de viver
desperta raiva em meu coração.
Só dá vontade de dizer, mais uma vez,
que tenho nojo de ti,
de mim,
de nós.
Porque já não somos aquilo que éramos.