Diálogo de Loucos(?)
- Poço. fundo do poço!
- Não ouço! não ouço!
- Presa estou em tuas teias!
- Solta-te das minhas teias!
- Não posso... Sangue teu nas minhas veias!
- Sangue? ... Nas veias?
- Ora... Bem sei, não sabes...
- Não sei... Fala-me tu para que eu creia!
- Não crês no amor... Não crês!
- Cospe-me, então!
- Na tua face? ... És a minha face!
- Então despe-me... Envergonha-me!
- Dispo-te em mim! ... Na tua ausência de vergonha...
E amo-te ainda e assim!
- Maldição de mim... O que fiz eu?
- Atiraste o meu amor... Ao relento... Ao chão!
- Morro lento, então?
- Morres sim... Numa dor imensurável para dentro de mim.
- O que fazer, então? ... Solta-me a mão!
- Não posso... O amor não deixa não.
- Ele pulsa lento? Ouço!
... Deixa-o morrer, então!
- Poço. fundo do poço!
- Me escutas, pseudo-coração?
- Pouco. No teu bater parco.
- E os meus passos anárquicos?
- Sim... E os teus "achismos" hierárquicos!
- Sou um tolo! Sou um tolo!
- Cometeste em mim um grave dolo...
E não deixaste tijolo sobre tijolo...
Da construção antiga do nosso amor quase tolo.
Inocência vil esta, a tua!
Descabida... ultrajada... mentirosa!
Solto-te as mãos, então!
E passo a preferir o poço...
O fundo do poço!
Deixo-te morrer em mim!
Aos poucos... E pinto-o por dentro azul anil
E pinto ainda uma gaivota e sopro... E dou vida!
E liberto-me de ti, enfim!
- Acabou o diálogo entre mim e ti?
- Diálogo? ... Monólogo! ... Decidiste assim.
... Tu estarás sempre dentro de mim...
- Sim. Este é o meu fim!
Karla Mello
23 de Outubro de 2014