desperdício de tudo
como pode um peito vazio pesar tanto?
tudo o que ele quer é um respaldo
um apoio
um abraço
um conforto
algo em que se encaixe.
eu só tenho eu
e um travesseirão
que confere os requisitos mínimos.
consigo aliviar nele
o peso da tristeza.
é só isso,
triste
vazio
sozinho.
não está tão mal na escala da depressão.
pudera, virou costume.
periodicamente,
cá eu lido com o nada
me puxando ao chão.
ainda não me preocupo
em saber
em que espelho perdi a minha face,
só queria
apenas
entender
quando entrei nesse buraco.
me sinto distante
de tudo e de todos.
isolado
com toda a internet em mãos.
tenho tudo, todos e nada.
digo "é só uma fase"
que só dura tem anos.
uma hora passa
ao mesmo tempo
em que passa
minha vida
escorrendo
entre
os
dedos.
e pior, não volta.
ainda assim, vale o aprendizado
a experiência.
quão fundo a gente consegue descer no poço?
dizem: "se não está feliz, que mude
se continua infeliz sem mudar é mero comodismo".
contraditório,
o cômodo é confortável e a última coisa que sinto é conforto.
mudar? mudar pra onde?
já mudei, e a esperança de algo novo já se foi.
talvez seja essa pontada espinhosa que tem machucado.
"a esperança não decepciona", ouvi algumas vezes.
até chegar esse momento, tantos anos se passarão.
até lá, segue o desperdício.