CINZAS

 
Final de inverno... Setembro...
E tristemente inda me lembro
do fogo voraz e das cinzas mortas
cobrindo os campos e as encostas...
Diante de mim um outro mundo.
É que as cinzas cobriram tudo.
Até minhas esperanças...
 
Onde se escondera o verde?
 
Vi braços negros esgalhados
apontando para mim...
Tentei em vão não enxergar...
 
Diluídos nesse negrume decrépito
a quem dirigia o terrível gesto?
 
Pressenti-o tão silencioso
e ao mesmo tempo murmurando pelos vales,
cuja massa sangrenta era também negra.
Vi no fogo ardente a natureza...
A ventania agitando teus restos ao léu;
até o cheiro que saia de tuas entranhas.
 
E mesmo assim amortalhada inda lutava...
Por quem afinal? Teus algozes?
 
Mas renasceste...Renasceste das cinzas...
E as mágoas foram proibidas
quando o primeiro broto rebentou no seio da terra
e as folhas cobriram teus ossos...
abrasando fundamente almas vis.
 
E então tu reinaste esmeraldina
sobre o fogo... O vento levou tuas cinzas...
Só ficaram as minhas nessa lembrança...
 
Será que como ti, ó natureza, terei sorte?
 
 



( obs: esse poema refere-se a uma lembrança minha. Em setembro de 2007, fui à fazenda de meu pai e fiquei muito triste porque uma reserva belíssima no caminho estava completamente destruida pela fogo. eram 10 quilometros de cerrado, vales... Era uma cena muito triste de se ver. Mas a natureza tem suas formas de renascer e algum tempo depois quando voltei por lá, tudo já estava verde novamente. O poema nasceu justamente pelo fato dessa lembrança e porque nessa época a gente vê muitas queimadas. inclusive em importantes reservas. A natureza renasce das cinzas, mas e se um dia ela não renascer mais, que será de nós? pensemos...


( imagem; google)