NASCEU SABENDO
Ele já nasceu cansado
Tão sem cor tão fatigado
Que já nasceu foi pra morrer
Nunca vai fazer historia
Nem vai deixar memória
Ninguém vai nele pensar
Ela já soube a que veio
No primeiro desvario
Primeira noite com tanta dor
Esqueceu toda a atitude
Aprendeu que quem se ilude não vai ao longe
No porvir...
Ele já sabia logo
Todo o choro e todo ódio
Serão suas bem-aventuranças
Ele já entendeu sem tempo
Que o que nasceu naquele tempo
Nasceu pra ser de troça
Nenhum mundo seu nenhum tesouro
Nem legionário nem mouro
Nem herói nem escravo
Só a sina de ser pouco
E dos poucos que são poucos
Ser o menor e o mais fraco
Ele olhou então a lua e pensou é culpa sua...
Por que também vou culpar alguém
Ergueu um punho magro e em riste desanimado desandou imprecações
Mas o dia veio o dia
E o sol que não sabia
Não sabia nem ligava
Queimou sua pele e sua raiva
Tostou seu animo pueril
Matou o pequeno guerreiro que ele criava
E ele... ele sabia
Não nasce pra honraria
Não veio ao mundo pra vitoria
E caminhou pelas vielas
Como um príncipe em Castela
Como um lorde em seu reino
Sentou em algum meio fio
Cerrou os olhos com que pouco viu
E apenas esperou
De algum lugar de alguma forma
Viria o golpe de misericórdia
E o abençoado fim
Mais dia menos dia
É sua única alegria
Toda a vida... tem um...
FIM.