SUSPIRO
Estou doente
e beiro à morte.
Tenho sofrido,
desde os vinte anos,
de um suspiro profundo
que sai lerdo
das entranhas vazias do meu peito.
É assim mesmo
o que acontece!
Um suspiro e um peito vazio!
Falo sem nenhuma
licença poética
e a descrição que faço
é fria e anatômica,
sem vestígios de exagero.
O suspiro,
sinal externo da enfermidade,
muitos amigos já tiveram
o infortúnio de presenciar,
muitos parentes sofreram
só de pensar no desespero que sinto
quando busco um pouco de ar
para fazer encher os pulmões.
O vazio no peito,
dor interna da doença,
ninguém viu ou sentiu por mim,
mas nem por isso
amigos e parentes
duvidam da minha angústia,
pois me veem atirado à cama,
com os olhos fundos
e o travesseiro molhado de lágrimas.