A Dor tem mãos

Não há perda.

Mãos apenas.

Recíprocas, não pútridas:

serenas.

Apenas mãos e recicladas,

mãos.

Não há um fato

a resguardar-se mudo.

Engavetados movimentos,

levam, por si, inúteis dedos.

O óleo vasto enrijecendo

membros, fatos, mãos...

A Dor, secreta montanha,

enfim desesperada, enfim

em verdade sólida ancora-se

e dorme.

Há nas mãos a dor que exige

aprovação. Que arpeja finíssima.

Não há dor no óbito.

Não há dor nas livrarias.

O rastro, elétrico, da bem amada

nele não há dor.

A dor tem mãos.

Eleva-se em palmas.

Eleva-se.

A dor existe, felina.

Que se confundam, doentes,

no instinto.

A dor existe, expressa...

na dúvida dolorosa.

Heitor de Lima
Enviado por Heitor de Lima em 13/08/2014
Código do texto: T4921569
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