A Dor tem mãos
Não há perda.
Mãos apenas.
Recíprocas, não pútridas:
serenas.
Apenas mãos e recicladas,
mãos.
Não há um fato
a resguardar-se mudo.
Engavetados movimentos,
levam, por si, inúteis dedos.
O óleo vasto enrijecendo
membros, fatos, mãos...
A Dor, secreta montanha,
enfim desesperada, enfim
em verdade sólida ancora-se
e dorme.
Há nas mãos a dor que exige
aprovação. Que arpeja finíssima.
Não há dor no óbito.
Não há dor nas livrarias.
O rastro, elétrico, da bem amada
nele não há dor.
A dor tem mãos.
Eleva-se em palmas.
Eleva-se.
A dor existe, felina.
Que se confundam, doentes,
no instinto.
A dor existe, expressa...
na dúvida dolorosa.