Trocas

Fite a fita, o laço do cabelo

que trança a trança,

segura balança,

recebe meus apelos.

Toque, retoque a boca,

arme o sorriso da volta

a hora extinta, quase louca

a espera pelo tempo que correu,

no amor, na saudade que cresceu.

Mexa, remexa, balance o recado,

cubra a coxa, o seio rosado,

faça altiva à hora exata,

marque o ponto,

procure na sorte o encontro,

rasgue os olhos, pinte o rosto,

troque o molejo do corpo,

baixe a sandália,

encurte a saia

antes que venha a vaia,

antes que eu saia

na roda do pano,

faça hora, engano

e não saiba que a volta

foi só um contorno,

uma moldura no espaço vazio,

um retrato de parede, amarelo,

desbotado, mofado.

E ninguém volta

ao folheto lido e relido,

não fui, você não foi,

como retornar sem ter ido?