Palavras para a Morte

Não tenho palavras para a morte.

A morte não pede palavras, pede silêncio.

É só este vazio que se faz n'algum lugar

dentro do peito onde havia alguém

que agora não existe mais...

Para a morte não tenho pensamentos,

ela pede esquecimentos.

Para a morte não tenho olhares,

ela pede outros ares, outros mares, outros lugares.

Para a morte cessa todo meu qualquer medo,

mas disto ela me pede o mais absoluto segredo.

Não tenho mais palavras para a morte,

porque a morte só me pede silêncio,

talvez a decência de uma folha em branco,

quando mais que isto, talvez um último poema,

algumas poucas lágrimas e quase nenhum pranto.

Talvez porque morrer seja normal, já viver é surreal,

morrer parece real, viver não passa de um teatro barato;

só sei que não sei o que é feito da vida quando cai o pano,

nem o que poderia restar para dizer no último ato.

Não tenho nenhuma fala pronta para a morte,

ato final da vida, essa peça mal encenada,

na qual toda a possível glória encontra o seu dilema,

em que a vida pede tudo e a morte pede nada.

Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 06/08/2014
Reeditado em 09/01/2021
Código do texto: T4912688
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