Palavras para a Morte
Não tenho palavras para a morte.
A morte não pede palavras, pede silêncio.
É só este vazio que se faz n'algum lugar
dentro do peito onde havia alguém
que agora não existe mais...
Para a morte não tenho pensamentos,
ela pede esquecimentos.
Para a morte não tenho olhares,
ela pede outros ares, outros mares, outros lugares.
Para a morte cessa todo meu qualquer medo,
mas disto ela me pede o mais absoluto segredo.
Não tenho mais palavras para a morte,
porque a morte só me pede silêncio,
talvez a decência de uma folha em branco,
quando mais que isto, talvez um último poema,
algumas poucas lágrimas e quase nenhum pranto.
Talvez porque morrer seja normal, já viver é surreal,
morrer parece real, viver não passa de um teatro barato;
só sei que não sei o que é feito da vida quando cai o pano,
nem o que poderia restar para dizer no último ato.
Não tenho nenhuma fala pronta para a morte,
ato final da vida, essa peça mal encenada,
na qual toda a possível glória encontra o seu dilema,
em que a vida pede tudo e a morte pede nada.