Desprotegido
Desprotegido vagueando no deserto sempre ausente,
Na penumbra duma noite fria de sentimentos vãos,
Sem assertividade no realçar do belo que mente,
Prescrito definhando num esgar desmaiado de aflição.
Desprotegido às tuas enrugadas mãos finadas,
Que me adornam a campa de flores saudosas,
Vens com as primeiras chuvas tão odoradas,
Que me lavam as feridas em chaga ociosas.
Desprotegido do amor inculto desagravado,
Incompreensível doce tentação insurrecta,
Que me abandonou ao meu triste chorado,
Alma aprisionada na aparência circunspecta.
Desprotegido para todo o sempre que me espera,
Armadilhado em promessas vãs recauchutadas,
Eu pernoitarei sob as achas da minha quimera,
Sem consolo algum nas derradeiras alvoradas.
Lisboa, 26-9-2013