O CLAMOR DE UM DESABAFO
Queria bastar-me a mim mesmo, ser a metade que procuro.
Ser a faceta convexa reclamada pela côncava necessidade que grita dentro em mim.
Queria ser o afeto que a vida me negou, ser o pai e a mãe que jamais me geraram.
Posto que não me amaram jamais, queria ser a sensação sonhada do real preenchimento;
Afim de que essa paupérrima e vazia alma pudesse emergir de suas próprias sombras.
Queria ser o sim que jamais ouvi, ser o algoz de todos os adeus que me disseram friamente.
Queria esmagar com a franqueza do meu sorrir a hipócrita lágrima de quem afirmou me querer,
Para que na raiz de minhas ilusões já houvesse a plenitude das batalhas perdidas.
Queria apenas vencer, uma vez que fosse!
Quisera ser luz de meu próprio caminhar, já que me impuseram seu “melhor” e maior lado escuro.
Queria ser a verdade da qual não me julgaram digno, ser o ponto final da maldade que me fizeram herdar.
Queria ser suficiente às minhas carências, pleno em minhas deficiências, gigante nas limitações.
Faço votos de que pelo menos queira o que pra mim jamais quiseram!
Queria ser a brisa que jamais amenizou a desértica solidão eterna a me assolar.
Ser o bálsamo que cicatrize as chagas que não por mim e em mim se instalaram.
Queria ser as asas que me faltaram nos dias em que no chão todos me açoitaram,
Ser a razão quando insanamente fui tido por louco.
Queria abdicar de ser o palhaço nessa espetacular odisséia existencial,
Ter na palma da mão todos os corações que de si me escorraçaram.
Queria que o bumerangue me trouxesse no retorno o bem que dei e não o mal que me querem.
Ser alvo das mesmas flechas que atiro e não dos dardos ingratos dos que me ignoram.
Creio nem saber exatamente o que quero.
Talvez não queira coisa alguma, a não ser amar.
Talvez nem queira amar, apenas querer.
Nem amar, nem querer – talvez só queira ser feliz – viver!