O CLAMOR DE UM DESABAFO

Queria bastar-me a mim mesmo, ser a metade que procuro.

Ser a faceta convexa reclamada pela côncava necessidade que grita dentro em mim.

Queria ser o afeto que a vida me negou, ser o pai e a mãe que jamais me geraram.

Posto que não me amaram jamais, queria ser a sensação sonhada do real preenchimento;

Afim de que essa paupérrima e vazia alma pudesse emergir de suas próprias sombras.

Queria ser o sim que jamais ouvi, ser o algoz de todos os adeus que me disseram friamente.

Queria esmagar com a franqueza do meu sorrir a hipócrita lágrima de quem afirmou me querer,

Para que na raiz de minhas ilusões já houvesse a plenitude das batalhas perdidas.

Queria apenas vencer, uma vez que fosse!

Quisera ser luz de meu próprio caminhar, já que me impuseram seu “melhor” e maior lado escuro.

Queria ser a verdade da qual não me julgaram digno, ser o ponto final da maldade que me fizeram herdar.

Queria ser suficiente às minhas carências, pleno em minhas deficiências, gigante nas limitações.

Faço votos de que pelo menos queira o que pra mim jamais quiseram!

Queria ser a brisa que jamais amenizou a desértica solidão eterna a me assolar.

Ser o bálsamo que cicatrize as chagas que não por mim e em mim se instalaram.

Queria ser as asas que me faltaram nos dias em que no chão todos me açoitaram,

Ser a razão quando insanamente fui tido por louco.

Queria abdicar de ser o palhaço nessa espetacular odisséia existencial,

Ter na palma da mão todos os corações que de si me escorraçaram.

Queria que o bumerangue me trouxesse no retorno o bem que dei e não o mal que me querem.

Ser alvo das mesmas flechas que atiro e não dos dardos ingratos dos que me ignoram.

Creio nem saber exatamente o que quero.

Talvez não queira coisa alguma, a não ser amar.

Talvez nem queira amar, apenas querer.

Nem amar, nem querer – talvez só queira ser feliz – viver!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 17/05/2007
Reeditado em 11/07/2008
Código do texto: T490792
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