Lamentações

Nunca pude, noite a dentro, sair aos brados pelas ruas, pelas praças, praias, campos, vendo sombras de mulheres nuas. Nunca pude compor formas, silhuetas formadas na noite; entender teus olhos nos reflexos, conter linhas pelo horizonte aberto. Nunca pude nas linhas lunares, ver o risco dos teus cabelos escapando, saltando ao espaço nos ares, reflexos sensuais a mim proibidos. Nunca pude, noite a dentro, ser fruto de gente, ser gente que vida lega motivos, vida inteira pela frente. Nunca pude ser solução, ser palavra, ver perdão. Nunca pude ser desejo, ser amado, ser um beijo que passeia pela noite, ronda de boca em boca e não se perde sem abrigo, sem um princípio, sem um fim. E entre tudo que não pude, apenas lamento pela noite que não foi criada para mim.